ISA GORGORINHO
(BRASIL – DISTRITO FEDERAL)
É natural de Brasília/DF, mas reside também em João Pessoa.
Doutora em Teoria da Literatura pela UnB e Universitá di Roma.
Professora universitária, aposentada, poeta, cronista, contista, autora de artigos e ensaios.
DANIEL, Claudio. NOVAS VOZES DA POESIA
BRASILEIRA. Uma antologia crítica. Capa: Thiti
Johnson. Cajazeiras: Arribação, 258 p.
ISBN 978-85-6036-3333365-6
Exemplar na biblioteca de Antonio Miranda
ECOS DE GALOS 2
O inventor ensina:
catar se limita com escrever
na superfície branca da folha
como no côncavo do alguidar
o leve e oco — adjetivações
palha e eco — lirismo à mancheia
deve-se jogar for ao que boiar
A pedra decantada
e quebra do horizonte flutuante
expectativa do leitor fluvial
que deseja o texto de prazer contente
Lanço as despalavras
dar o desespero
ao leitor satisfeito de si
quebrar os dentes
mastigável é o prazer do texto
provoca
isca a mente
educa pela pedra
ranhadura pele do poema
Presa à superfície
à impureza do branco
o poema sujo
a nódoa no brim
a palavra nascida flor
manguezal
lótus surge do caos
renasce da lama
em direção à luz
Poeta catador de feijão
à procura da poesia
No entre-lugar
realidade e invenção
REFLEXOS
Se chego vespertina
ao teu encontro
embora não saibas
seu resquício
do matutino noturno
lá onde seu olhar não alcança
olhe novamente
para mim, no escaninho
da memória: se guardas
nele minha pele —
olhe para mim
sem suas lentes capciosas
Porque esses anos
me olhei refletida
no espelho de tua retina
era opacidade o que via
desejosa de transparência
Minha casa agora é o mar
minhas barbatanas cresceram
entendo que sou marinha
mergulhando, deslizando
evitando tocar a margem —
roçando essas memórias
me lembrei de você
Translações atemporais
em torno do sol —
espero que seu corpo
livre das raízes
se lance ao mar
e no amalgamado abraço
se confunda
com o meu
ESPANTALHO
Sustentada pelos fios descobertos de nervos
A cabeça cilíndrica coroa de eletrochoques —
deixava saltar das cavidades dos olhos duas
[dinamites
esbugalhadas
Tronco escorpião aprisionado — golpeado pelo fogo
[da
própria cauda
coração fragmentos de topázio bruto — rosácea no
[escuro
Braços e mãos de arames farpados —
dos campos de ódio —
escarpavam as pernas de palha do espantalho
à espera de um golpe
de misericórdia
ou
de um sopro
de vida
*
VEJA E LEIA outros poetas do DISTRITO FEDERAL em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html
Página publicada em setembro de 2024
|